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João Bosco fala das novidades da segunda Jornada Literária



A Jornada Literária está de volta! Desta vez, em parceira com o SESC-DF, a Jornada será no Gama, Santa Maria, Samambaia e Recanto das Emas. De   25 a 29 de setembro, a programação será no Teatro SESC Paulo Gracindo, no Gama, e nos meses de outubro e novembro em escolas públicas dessas mesmas regiões administrativas. O objetivo é o mesmo da primeira edição, que ocorreu ano passado no Paranoá: incentivar o gosto pela leitura literária entre estudantes de escolas públicas do Distrito Federal, por meio da promoção da literatura, do livro e do autor.

Durante esses três meses mais  de 20 autores – escritores, poetas, ilustradores e quadrinistas –  conversarão com o público, especialmente alunos e professores, sobre o mundo mágico dos livros e da leitura. Estarão presentes na Jornada escritores e ilustradores ganhadores do Prêmio Jabuti de Literatura, como Ana Miranda, Ivan Zigg, José Rezende Jr., Renato Moroni, e outros que moram no Distrito Federal, como Tino Freitas, Alexandre Pilati, José Rezende Jr., Jéferson Assunção, Marco Miranda, João Bosco Bezerra Bonfim, Wilson Pereira, Cristiane Sobral, Noélia Ribeiro e André Giusti entre outros.


João Bosco Bezerra Bonfim, que além de escritor é também o curador de evento, fala um pouco sobre essa segunda edição da Jornada Literária.


Quantos alunos serão beneficiados pelo projeto?

Estimamos que cerca de oito mil alunos serão beneficiados, diretamente. Quer dizer: os professores e professoras desses alunos participarão de oficinas de mediação de leitura; receberão por empréstimo um conjunto de livros, em suas escolas; e os alunos-leitores se encontrarão com os escritores. Além dessas atividades, haverá os espetáculos de literatura – sendo dois deles dedicados a poesia – em que os alunos irão ao teatro. Nesses espetáculos, oferecidos por escritores, músicos e atores, a literatura é a tônica, isto é, o prazer de ouvir uma bela história ou os versos de um poema.


Brasília tem a tradicional Feira do Livro e, de cinco anos para cá, recebe também uma bienal do livro e da literatura. Guardada a importância que cada um tem, qual a diferença básica entre esses dois eventos e a jornada?

Na maior parte deles, a participação dos alunos se resume a comparecer aos estandes de uma exposição de livros. E não há um vínculo entre as apresentações de debates e exposições e a presença de um público agendado. Mas são, seguramente, eventos que se completam: feiras e bienais têm um propósito; e a Jornada tem esse que é conectar diretamente leitores, livros e autores. Precisamos olhar para a Jornada com um olhar comparativo nacional, também. Nossas referências são os salões do livro, bienais e festas e feiras, sim. Mas buscamos o melhor dessas experiências, para fazer essa conexão: livro, leitor, autor. Esse é o encantamento que queremos continuar a fazer. E isso só é possível graças ao empenho dos escritores e ilustradores e quadrinhistas, sim; mas é fundamental que tenhamos um fundo público de cultura, como é o caso do FAC DF. Essa é uma conquista da classe artística: 0,3% dos impostos arrecadados devem ir para esse fundo. E é com esses recursos públicos que são patrocinados eventos como a Jornada Literária do DF. Para nós, esse é um modo de termos uma cultura literária cada vez mais inclusiva.


Qual o efeito que a Jornada passada trouxe à vida dos alunos? Eles estão lendo mais, ou pelo menos mais interessados nos livros?

Cada uma das escolas alcançadas na 1ª Jornada – e foram mais de vinte – despertou para uma nova maneira de ver e ler o livro; ou reforçou projetos já existentes. É importante lembrar que boa parte das escolas do DF já busca ver a literatura pelo lado do lúdico, poético, reflexivo. Do acompanhamento que fizemos com coordenadores pedagógicos e professores, as salas de leitura de cada escola passaram a ser mais frequentadas, com mais empréstimos. E os livros passaram a ser lidos de maneira diferente, pelos professores, isto é, com interpretação, reconto, reilustração. Recebemos de alguns professores o pedido de empréstimo de livros para eles – em turmas novas – trabalharem as obras a que tiveram acesso durante a primeira jornada.


A Jornada desmistifica o escritor na cabeça do aluno, ou seja, o aluno passa a ver o autor como uma pessoa normal, comum e se aproxima mais da leitura por causa disso?

Sim. A reação é quase de espanto, pois a maneira pela qual a literatura é trabalhada em muitas das salas de aula, parte-se da historiada literatura (estilos, escolas) e dos clássicos. E, para ser clássico, um autor tem que ter nascido há um século ou mais. Isso porque há um certo conservadorismo. Há um temor de se ler os novos autores, porque não foram consagrados. É meio esquisito isso, pois você não se torna um autor conhecido porque não é lido; e ainda não é lido, por não ser conhecido.


Mas há, felizmente, autores contemporâneos sendo lidos nas escolas, graças ao Programa Nacional de Bibliotecas nas Escolas (PNBE), por exemplo. Pelo PNBE, livros de autores têm chegado às escolas. A Jornada vai receber alguns desses autores. Mas há também aqueles cujas obras ainda não circulam em todo o País. Mas cujas obras já foram reconhecidas por prêmios nacionais – o Jabuti, por exemplo; e também os catálogos da FNLIJ.

Voltando ao mito: ao ver o escritor mais próximo de si, o aluno passa a incorporá-lo no imaginário, como algo possível, alcançável. E há uma mágica nesses encontros: ainda que não tenham ali um livro, pedem autógrafos, como se faz com artistas da TV ou dos esportes.


Que aspectos de um livro os alunos costumam destacar, o que desperta mais atenção neles?

Na jornada, lidamos com pessoas que vão da educação infantil à Educação de Jovens e Adultos (EJA), passando aí por uma maioria de adolescentes. Para os primeiros, os álbuns ilustrados fazem mais sucesso: grande parte deles quer sair do encontro e se tornar um ilustrador. Para os adolescentes, vêm as emoções fortes: os amores, as separações, a morte. Ainda que acostumados a ver vídeos e até jogos eletrônicos com esses temas, quase que se assustam quando veem por escrito, isto é, quando a imaginação deles é colocada como diretor do filme, da cena descrita na obra literária. Para os adultos que voltaram à escola, também um misto de encantamento e espanto: “Mas quer dizer que tudo isso vem daí, desse livro?”


Você, como autor, tem um contato estreito com os alunos. Como é isso para o autor? É gratificante? Você sente que, por menos que sejam, você consegue formar leitores?

Nosso projeto é de busca da qualidade na formação do leitor. Trabalhamos nas escolas e com os alunos. Mas não lidamos com a literatura da mesma maneira que muitas das escolas o fazem tradicionalmente.


Se lá na escola estão sempre pensando em provas e vestibulares, nós pensamos na emoção que a literatura traz.


E mais: escolhemos trabalhar nas cidades que estão fora do Eixo do Plano Piloto. Então, faz diferença que um livro e um autor chegue a eles, num programa público e gratuito. Isso porque, nas escolas privadas, é comum que – ao adquirirem certa quantidade de livros – as escolas recebam, em contrapartida, a visita de autores. Mas no Gama, Santa Maria, Samambaia e Recanto das Emas, em escolas públicas, isso não é tão frequente. Para eles, a diversidade é essa: livros e autores.


Uma parceria como a feita este ano com o SESC fortalece o evento?

Este ano, temos a parceria do SESC DF, que é para nós um sinal de reconhecimento do trabalho já feito. Em 2016, equipes do SESC visitaram nosso evento, no Paranoá. E, para 2017, o SESC aceitou ser parceiro, cedendo um espaço maravilhoso, que é o Teatro Paulo Gracindo, no Gama. Para nós – autores, editores, distribuidores de livros – o SESC é uma das forças mais significativas para apoiar projetos de literatura. Em Brasília, fazem um concurso anual; no Brasil inteiro, fazem outro, de nível nacional. E, agora, apoiando diretamente um evento como este, reforça o papel na cultura literária, pois, no DF, já é bem ativo em teatro e cinema.


Igualmente de valor é a adesão dos educadores, dirigentes de regionais de ensino e de escolas. Um projeto como esse só ocorre por causa do amor que essas pessoas têm à literatura. Reconhecem o quanto seus alunos se beneficiam com um projeto assim. E abrem as portas para nós.

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