Ivan Zigg já é figura carimbada na Jornada Literária do DF. Em três edições, esta será a terceira vez que o escritor e ilustrador carioca vem a Brasília participar do evento. A novidade este ano é que ele estará também na Jornadinha, voltada para crianças até seis anos.
E não é à toa que ele não perde uma Jornada Literária. “Ainda são poucos, mas estão crescendo, os eventos que entenderam o que os diferencia e que faz um evento literário ser uma coisa inesquecível”, conta Zigg, que participa de vários deles Brasil afora e classifica a nossa Jornada como um desses eventos que “entenderam” como ser inesquecíveis.
Para Ivan Zigg a jornada se diferencia “porque ela entende que na passagem dessa mensagem (a do livro) é preciso haver vibração. É preciso haver ligação do livro e da literatura com a vida real, com a vida humana”, explica o ganhador do Jabuti de Melhor Ilustração para livro Infantil em 2004. Ele enxerga nos autores participantes da Jornada um fio condutor. “São excelentes comunicadores, cada um a sua maneira. São pessoas que conseguem emocionar na fala”. Dessa forma, segundo ele, a Jornada cativa as pessoas. “As pessoas, alunos, professores saem dali com uma ideia viva do livro e da literatura”, resume Zigg.
Com uma missão extra este ano – a de ajudar a formar futuros leitores na Jornadinha -, Ivan Zigg acha que é “encantando” a criança que o adulto a transformará em leitora. Quando fala isso, lembra logo de quando era criança e a mãe, todas as noites, lia para o pequeno um livro sobre aves. “Fotos espetaculares, uma por página, e um textinho bem charmoso para cada uma. Eu adorava o textinho, achava o máximo, mas ainda não sabia ler”, conta o autor. No dia seguinte estava ansioso para ver de quais aves sua mãe contaria a história naquela noite. “E comecei a perceber que o interessante era a combinação do ritmo das histórias com as fotos e o texto”. Ou seja, todo um conjunto que encantou o menino Ivan Zigg. Então, por experiência própria, garante que o encantamento é o caminho. “Seja com imagens, seja com sons”, aponta.
Aos pais, recomenda criarem em casa uma atmosfera que desperte nos filhos o interesse pela leitura. “Geralmente isso significa ter uma hora em que é boa para ler, para estar perto da leitura. Criar um cantinho. Há famílias que fazem uma prateleira com livros e uma minibiblioteca. Esse tratar bem do livro físico, como se fosse um objeto-pessoa é também muito importante”, alerta, destacando que isso tudo forma na criança uma imagem de valorização do livro e da leitura.
Ivan Zigg reconhece que esse cenário é possível em casas de classe média, com espaço, em que cada um tem seu quarto. “Vá ter concentração num quarto em que você divide com mais três, quatro pessoas...Por isso a gente tem também que fortalecer a ideia das leituras comunitárias, na casa do vizinho, do parente, do amigo, na casa que tem mais um jeitinho pra isso”, citando também a biblioteca do bairro e a escola como opções para a criação dessa atmosfera da leitura.
Participante de tantos eventos literários ao longo dos anos, Ivan Zigg guarda exemplos concretos de que já conseguiu fazer exatamente o que fará na Jornadinha: formar leitores. “ Você sabe que eu sou um dinossauro, né?”, diz, brincando, se referindo à própria idade. “Então, de vez em quando aparece um cara ou uma garota, com cara de intelectual, cheio de livro debaixo do braço, dizendo que um livro meu foi o primeiro livro que essa pessoa leu”, conta, divertido. “Outro dia uma menina me parou e disse: você faz parte da minha infância. É pra sair chorando”, acrescenta, alegre.
“Eu acho que essas crianças que têm contato com a leitura desde cedo têm potencial para se tornarem leitores contumazes”, concorda o autor. Mas ele acredita também que precisamos entender isso como um processo mais amplo. “ A criança quando manuseia o livro, ela já está lendo na verdade”, não precisa entender o alfabeto, é algo maior”, garante, citando o exemplo da filhinha de um amigo que com apenas um ano olhava atenta para um livro de Zigg de cabeça para baixo. “A filha do meu parceiro já é uma leitora voraz”, acredita o autor.
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