A poesia tem recebido na 3ª edição da Jornada Literária do Distrito Federal a importância que o gênero merece. Na 4ª feira, 15, 2º dia do evento promovido com recursos do Fundo de Apoio à Cultura, FAC-DF, e correalizado pelo Sesc, pelo menos quatro autores falaram sobre poesia para alunos e professores das escolas públicas que participam da Jornada.
A programação começou logo cedo, na Biblioteca de Ceilândia. O poeta e doutor em literatura pela UnB, Alexandre Pilati, fez um rápido "passeio" pela obra de Carlos Drummond de Andrade, lendo e discutindo três poemas de um dos nossos maiores autores: Os ombros suportam o mundo, Elegia 1938 e (claro) No meio do caminho tinha uma pedra. Pilati, um dos maiores estudiosos e conhecedores no país da obra de Drummond, disse que o objetivo foi discutir com os alunos "A vida apenas, sem mistificação", que na opinião dele é um dos aspectos essenciais da poesia de Drummond. "Isso porque talvez ele seja o autor lírico mais capaz de encarar a realidade com lucidez, sem mistificá-la ou romantizá-la. Drummond é um grande poeta realista nesse sentido: nos coloca frente a frente com as verdades mais profundas da vida, de um modo claro, comunicativo, intenso e belo", elucida Pilati. Depois da leitura e do debate, o resultado: " Os estudantes reagiram muito bem. Com interesse e curiosidade. Fica a semente da literatura e da leitura de um de nossos clássicos", acredita o poeta e doutor.
À tarde, na Sala Multiuso do Sesc, junto ao Teatro Newton Rossi, outros três autores falaram sobre poesia, começando por Leo Cunha. O autor de dezenas de livros infantis bateu um longo papo com professoras do ensino fundamental, que dão aulas para alunos de 11 a 13 anos, que abrangeu também outros assuntos. Explicou, por exemplo, porque algumas vezes um livro não é adotado pelo governo para ser trabalhado nas escolas. "Por causa do formato que é exigido no edital. O edital exige que a publicação tenha aquele determinado formato e isso simplesmente às vezes é incompatível com as ilustrações, com o projeto gráfico do livro", lamentou Leo Cunha, citando alguns de seus próprios títulos.
Em seguida, esse mesmo grupo de professoras pode conversar com o poeta e escritor André Giusti. Ele falou sobre sua experiência literária nas redes sociais. Para Giusti, as redes sociais serviram muito como "libertadoras de autores". "20, 30 anos atrás, o escritor era refém dos meios impressos, cadernos literários, fanzines, editoras. Hoje em dia a internet te possibilita publicar com alcance de leitores, o que é o mais importante", considerou o autor.
O dia da Jornada terminou na Sala Multiuso com uma das autoras mais esperadas do evento: Vera Lúcia de Oliveira, professora de literatura na Universidade de Perugia, na Itália, a presença "internacional" desta edição da Jornada. Acompanhada no início da apresentação pelo curador do evento, João Bosco Bezerra Bomfim, Vera leu poemas de seu livro Entre As Junturas dos Ossos, vencedor do 1º Prêmio Literatura para Todos, do Ministério da Educação, e que alcançou a tiragem de 110 mil exemplares, numero impressionante para um livro de poesia.
O objetivo da autora e professora foi mostrar à plateia a importância do ensino da poesia em sala de aula, algo que, ao contrário do que podemos imaginar no Brasil, é difícil até mesmo na Europa, ao menos na Itália, onde ela leciona. " Não há, por exemplo, o costume de realizar eventos como este, a Jornada, em que autores, poetas, vão conversar com professores e alunos", contou Vera Lúcia.
Ela aproveitou e falou sobre seu processo de criação, contando que um poema fica dentro de sua cabeça meses e meses, sem que ela escreva, até que um dia vem à tona, praticamente pronto. A autora comparou o poema a um ovo, a maior das células. "O ovo se tiver demais, não vinga. Se tiver de menos, também não. É como o poema: uma palavra a mais ou ao menos, e ele não vai funcionar".
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